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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Maria Mulambo


Maria Mulambo

Maria Mulambo nasceu em berço de ouro, cercada de luxo. Seus pais não eram reis, mas faziam parte da corte em um pequeno reinado. Maria cresceu bonita e delicada. Por causa de seus trejeitos, era chamada de princesa, mas não o era. Aos 15 anos, foi pedida em casamento pelo rei, para casar-se com seu filho de 40 anos. 
Foi um casamento sem amor, apenas para que as famílias se unissem e a fortuna aumentasse. Os anos se passavam e Maria não engravidava. O reino precisava de um sucessor ao trono. Maria amargava a dor de, além de manter um casamento sem amor, ser chamada de árvore que não dá frutos; nesta época, toda mulher que não tinha filhos era tida como amaldiçoada. 
Paralelamente a isso tudo, Maria era uma mulher que praticava a caridade, indo ela mesma aos povoados pobres do reino, ajudar aos doentes e necessitados. Nessas suas idas aos locais mais pobres, conheceu um jovem, apenas dois anos mais velho que ela, que havia ficado viúvo e tinha três filhos pequenos, dos quais cuidava como muito amor. Mulambo encantou-se. Foi amor à primeira vista, de ambas as partes, só que nenhum dos dois tinha coragem de assumir este sentimento. 
O rei morreu, o príncipe foi coroado e Maria então, foi declarada rainha daquele pequeno país. O povo adorava-a, mas alguns a viam com olhar de inveja e criticavam-na por não conseguir engravidar. 
No dia da coroação, os pobres súditos não tinham o que oferecer à Maria, que era tão bondosa com eles. Então fizeram um tapete de flores para que ela passasse em cima. Ela ficou muito emocionada; seu marido, o rei, morreu de inveja e ao chegar ao castelo trancou-a no quarto e deu-lhe a primeira das inúmeras surras que ele lhe aplicaria. Bastava ele beber um pouquinho e Maria sofria com suas agressões verbais, tapas, socos e pontapés. 
Mesmo machucada, ela não parou de ir aos povoados pobres praticar a caridade. Num destes dias, o amado de Maria, ao vê-la com tantas marcas, resolveu declarar seu amor e propôs que fugissem, para viverem intensamente seu grande amor. 
Combinaram tudo. Os pais do rapaz tomariam conta de seus filhos até que a situação se acalmasse e ele pudesse reconstruir a família. Maria fugiu com seu amor apenas com a roupa do corpo, deixando ouro e jóias para trás. O rei no princípio mandou procurá-la, mas como não encontrou-a, desistiu. 
Maria agora não se vestia com luxo e riquezas, usava roupas humildes que, de tão surradas, pareciam mulambos; mas era feliz. E engravidou. 
A notícia correu todo o país e chegou aos ouvidos do rei. O rei se desesperou em saber que ele é quem era uma árvore que não dava frutos. A loucura tomou conta dele ao saber que era estéril e, como rei, ele achava que isso não podia acontecer. Ele tinha de limpar seu nome e sua honra. Precisava fazer justiça.
Mandou seus guardas prenderem Maria, que de rainha passou a ser chamada de Maria Mulambo, não como deboche, mas sim pelo fato de ela agora pertencer ao povo. Ordenou aos guardas que amarrassem duas pedras aos pés de Maria e que jogassem-na na parte mais funda do rio. 
Os guardas cumpriram as ordens do rei. O povo não soube de nada. Sete dias após o crime, às margens do rio, no local onde Maria foi morta, começaram a nascer flores que nunca existiram ali e os peixes do rio somente eram pescados naquele local, onde só faltavam pular para fora d'água. 
Seu amado desconfiou e mergulhou no rio, procurando o corpo de Maria; e o encontrou. Mesmo depois de estar tantos dias mergulhado na água, o corpo estava intacto, dava a impressão de que Maria acordaria e voltaria a viver normalmente. Os farrapos que Maria vestia quando foi jogada ao rio sumiram. Suas roupas agora eram de rainha. Jóias cobriam seu corpo. 
O velório foi uma cerimônia digna de rainha e cremaram seu corpo. O rei enlouqueceu. O marido de Mulambo nunca mais casou e cultuou-a por toda a vida, a espera de poder encontrá-la de novo. No dia em que ele morreu e reencontrou Maria, no céu se fez o azul mais límpido e teve início a primavera.

Exu Marabô

 

Exu Marabô

O reino estava desolado pela súbita doença que acometera a Rainha. Dia após dia, a soberana definhava sobre a cama e nada mais parecia haver que pudesse ser feito para restituir-lhe a saúde. O Rei, totalmente apaixonado pela mulher, já tentara de tudo, gastara vultuosas somas pagando longas viagens para os médicos dos recantos mais longínquos e nenhum deles fora capaz sequer de descobrir qual era a enfermidade que roubava a vida da jovem. Um dia, sentado cabisbaixo na sala do trono, foi informado que havia um negro querendo falar-lhe sobre a doença fatídica que rondava o palácio. Apesar de totalmente incrédulo quanto a novidades sobre o caso, pediu que trouxessem-no à sua presença. Ficou impressionado com o porte do homem que se apresentou. Negro, muito alto e forte, vestia trajes nada apropriados para uma audiência real, apenas uma espécie de toalha negra envolta nos quadris e um colar de ossos de animais ao pescoço. 
- Meu nome é Perostino majestade. E sei que mal atinge nossa Rainha. Leve-me até ela e a curarei.
A dúvida envolveu o monarca em pensamentos desordenados. Como um homem que tinha a aparência de um feiticeiro ou curandeiro, ou seja lá o que for, iria conseguir o que os mais renomados médicos não conseguiram? Mas o desejo de ver sua amada curada foi maior que o preconceito e o negro foi levado ao quarto real. Durante três dias e três noites permaneceu no quarto pedindo ervas, pedras, animais e toda espécie de materiais naturais. Todos no palácio julgavam isso uma loucura. Como o rei podia expor sua mulher a um tratamento claramente rudimentar como aquele? No entanto, no quarto dia, a Rainha levantou-se e saiu a passear pelos gramados como se nada houvesse acontecido. O casal ficou tão feliz pelo milagre acontecido que fizeram de Perostino um homem rico e todos os casos de doença no palácio a partir daí eram encaminhados a ele que a todos curava. Sua fama correu pelo reino e o negro tornou-se uma espécie de amuleto para os reis. Logo surgiram comentários que ele seria um primeiro ministro que agradaria a todos, apesar de sua cor e origem, que ninguém conhecia. Ao tomar conhecimento desse fato o Rei indignou-se, ele tinha muita gratidão pelo homem, mas torná-lo autoridade? Isso nunca! Chamou-o a sua presença e pediu que ele se retirasse do palácio, pois já não era mais necessário ali. O ódio tomou conta da alma de Perostino e imediatamente começou a arquitetar um plano. Disse humildemente que iria embora, mas que gostaria de participar de um último jantar com a família real. Contente por haver conseguido se livrar do incomodo, o Rei aceitou o trato e marcou o jantar para aquela mesma noite. Sem que ninguém percebesse, Perostino colocou um veneno fortíssimo na comida que seria servida e, durante o jantar, os reis caíram mortos sobre a mesa sob o olhar malévolo de seu algoz. Sabendo que seu crime seria descoberto fugiu embrenhando-se nas matas. Arrependeu-se muito quando caiu em si, e seus últimos dias foram pesados e duros pela dor da consciência que lhe pesava. Um ano depois dos acontecimentos aqui narrados deixou o corpo carnal vitimado por uma doença que lhe cobriu de feridas. Muitos anos foram necessários para que seu espírito encontrasse o caminho a qual se dedica até hoje. Depois de muito aprendizado, foi encaminhado para uma das linhas de trabalho do Exu Marabô e até hoje, quando em terra, aprecia as bebidas finas e o luxo ao qual foi acostumado naquele reino distante. Tornou-se um espírito sério e compenetrado que a todos atende com atenção e respeito.

Exu do Lodo

 


Exu do Lodo

Exú Rei e Pomba Gira Rainha, decidiram andar pelo mundo para verificar o trabalho que realizavam seus súditos (os Exus) e dessa maneira, comprovar se eles eram fiéis no cumprimento das regras ou não. Para fazer isso, disfarçaram-se, ocultando seu ricos adornos para poderem passar despercebidos. 
Em uma ocasião, Pomba Gira Rainha caminhando por uma trilha, defrontou-se com um enorme pântano, sujo e podre, o que lhe impediu de continuar sua ronda. 
Enquanto decidia como fazer para atravessá-lo, apareceu a sua frente um homem de estatura média, com o perfil de um ermitão, bastante despenteado e aparentando ser anti social. Apesar de sua imagem sombria, coberta por uma enorme capa escura, ele não combinava com aquele lugar. 
Ela se assustou bastante a princípio, mas ficou lisonjeada com o gesto educado daquele homem, que rapidamente retirou a sua capa e jogou sobre o lodo para que ela pudesse passar. Rainha podia ver nos olhos dele uma grande desolação. 
A Rainha caminhou sobre a longa capa e seguiu seu caminho sem olhar para trás. Atonito, fascinado pela beleza daquela estranha mulher, que ele nunca tinha visto, mas estava certo de que nunca esqueceria dela. Pela primeira vez ele soube o que era paixão. Ele não sabia quem era aquela mulher. Ela não podia imaginar a ansiedade dele: não foi fácil ser o guardião daquele lugar. Nenhuma mulher gostaria de acompanhá-lo em sua tarefa. 
Rainha por sua vez, pensava em como recompensaria a educação e respeito daquele homem? De que maneira poderia melhorar a vida dele? 
Após a conclusão de sua viagem, chegou ao palácio e disse ao seu marido o que tinha descoberto. "Existe um ser nobre que cuida de uma pantanal imundo. Quando uma pessoa chega a esse charco pestilento, do nada ele vem e ajuda a pessoa a superar obstáculos tremendos. Eu vi a tristeza em seus olhos, por ter um local como aquele para atendimento, no entanto faz o seu trabalho com cuidado e sem titubear. Sua figura é curva, mal cheirosa e bruta, mas é humilde e cortez. 
Interessado no vizinho, Exú Rei queria convidá-lo para uma celebração que iria fazer em sua casa no final do mês. Sua intenção era premiá-lo por sua abnegada dedicação à missão que lhe tinha sido encomendada e pelo respeito à sua esposa. E em sua busca, ordenou ao general de seu exército, Senhor Tranca Ruas. 
Uma vez reunidos na Mansão Real, qual não seria a surpresa de Exu do Lodo ao notar que a esposa de seu soberano era a mulher que ele amou profundamente! E a dor, ao mesmo tempo, porque em menos de uma fração de segundos ela deveria ser retirada de sua mente. Não queria sequer imaginar que um dia sentiu-se atraído por ela. 
Naquela noite, Exú Rei o condecorou e lhe deu a honra de se sentar-se à sua direita. E desde então ocupa este lugar, mantendo a base do trono de seu monarca. 
Pomba Gira Rainha, em seguida, dá-lhe um lenço perfumado, e pede que ele guarde suas lágrimas, e depois ao retornar para seu local, jogue-o no meio do pântano. Ela lhe agradece pelo respeito e ternura, e promete ajudá-lo a sair da solidão em que se encontra. 
Naquela noite, enquanto voltava para o seu território, cabisbaixo, pensou: "Como poderia ser feliz vivendo no lodo? Nenhuma mulher iria querer juntar-se a mim em meu trabalho". Ao chegar, jogou o lenço sobre a lama e ficou a observar a lua que o cobria com a sua luz prateada. Saiam do lenço todas as suas lágrimas e espalharam-se por sobre o pântano, espalhadas como um colar de pérolas que desmanchava. Na manhã seguinte, ao observar o local onde ele tinha atirado o lenço, notou que começava a crescer uma planta, e que suas lágrimas dispersas, eram botões florais que começaram a pressagiar uma nova era. Era fim de inverno, e a primavera produzia milagres, mesmo na lama. 
Foi a primeira vez reparou as flores. Considerou um presente de sua Sra. Rainha e quis sentir a fragrância do seu amor. As flores tinham o mesmo perfume de sua soberana, cuidaria delas por todas as primaveras. 
Depois de algum tempo, a história repetiu-se com outro protagonista. Uma mulher circulava por aquele mesmo caminho, e de repente estava próxima ao charco. Solícito como sempre, Exú do Lodo saiu de seu esconderijo e ofereceu-lhe o casaco dele. Ao olhá-la, descobriu em seus olhos a simpatia que ele tanto buscava, e sem pensar duas vezes, cortou algumas de suas flores e ofereceu à linda mulher. Ela as aceitou e deu uma gargalhada. Era Maria Molambo, que desde então, passa a ser sua parceira. Ela ficou vivendo ao seu lado.

Ação e Não Reação

 Ação e Não Reação Parece a quem está longe do altar que aquele que não reage é passivo, contudo, para o Verdadeiro místico, é na verdade o ...