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sábado, 19 de abril de 2025

A Malhação do "Judas Lopez" pelo Exército Imperial Brasileiro. Charge da "Semana Ilustrada" 1865

 A Malhação do "Judas Lopez" pelo Exército Imperial Brasileiro. Charge da "Semana Ilustrada" 1865


Durante a Guerra do Paraguai, "a Semana Ilustrada" de Henrique Fleuiss, não deixa em nenhum segundo o líder paraguaio passar ileso de críticas. Por diversas vezes, López é apresentado como ladrão oportunista, um "Judas do Paraguai" que rouba de quem deveria proteger e foge deixando promessas de uma vitória absurdamente distante.


O Brasil e o brasileiro esperavam uma vitória rápida, antes mesmo da guerra começar os brasileiros já tinham seu império como o vencedor e isso facilitava nas críticas a Solano.

segunda-feira, 24 de março de 2025

O General Joaquim de Andrade

 O General Joaquim de Andrade Neves (1807-1869) primeiro e único Barão do Triunfo, chamado pelo Duque de Caxias de "o bravo dos bravos do exército brasileiro" serviu no exército de 1826 a 1869 quando morreu de ferimentos sofridos durante a Guerra do Paraguai.


Em 1826 sentou praça de voluntário, mas nesse mesmo ano se desligou, dando substituto, para auxiliar seu pai na sustentação de sua família. Quando em 1835 estourou a revolução farroupilha no Rio Grande do Sul, Andrade Neves com os guardas nacionais militou a favor da causa imperial, distinguindo-se em todos os combates em que entrou, e recebendo o pôsto de tenente-coronel honorário. Andrade Neves recebeu dois ferimentos de bala, entretanto permaneceu no campo de batalha até o término da luta em 1845.


Em 1851 serviu na campanha contra o ditador Rosas.


Em 1864, quando da invasão brasileira à República Oriental do Uruguai, o já General Andrade Neves ia à frente da 3ª Brigada de Cavalaria.Por ocasião do episódio conhecido por Sítio ou Cerco de Montevidéu, foi ele designado para atacar a fortaleza do Cerro. A 3ª Brigada avança e a guarnição iça a bandeira branca nas ameias da muralha.


Terminada a campanha no Uruguai, pelo tratado de 20 de fevereiro de 1865, o exército imperial marcha a caminho do Paraguai. Penetrou no território do Paraguai em 1867.  Na batalha de Tuiucué, em 16 de julho de 1867, suas divisões tomam a trincheira de Punta Carapá, arrastando os paraguaios em derrota até Humaitá. Em 3 de agosto derrota setecentos cavaleiros em Arroio Hondo.


Recebeu o título de Barão do Triunfo que lhe foi conferido pelo governo imperial em 19 de outubro de 1867; após a derrota total da cavalaria paraguaia que fazia frequentes diversões no exterior das fortificações de Humaitá; que deixa no campo cerca de 800 baixas


O Barão do Triunfo liderou pessoalmente o assalto ao Forte do Estabelecimiento em 1868. O ataque ao forte paraguaio aconteceu no contexto da passagem de Humaitá (19 de Fevereiro de 1868). Sob pesadas perdas, o Barão foi ferido e teve seu cavalo morto, mandou desmontar sua tropa de cavalaria e atacou a fortaleza até tomá-la. As perdas dos aliados foram estimadas em 1.200 homens (entre mortos e feridos) e as paraguaias em 150 homens e 9 peças de artilharia. A tropa sob comando do Barão do Triunfo era apelidada pelos paraguaios de caballeria loca de cuenta (cavalaria louca varrida).


Após a queda da Fortaleza de Humaitá (Julho de 1868), Francisco Solano López concentrou as suas tropas em uma posição forte ao longo do riacho Piquissiri, na margem esquerda do rio Paraguai.


Para contorná-la, Caxias determinou a construção de uma estrada com onze quilômetros de extensão, na margem direita do Paraguai, através dos pântanos do Chaco, conduzindo à retaguarda dos paraguaios.


Três combates tiveram lugar durante a marcha, todos galhardamente vencidos pelo Barão do Triunfo, que foi inclusive ferido pela artilharia Paraguaia.


López, convencido de que as tropas aliadas não poderiam cruzar o Chaco, foi surpreendido com o assalto aliado pela sua retaguarda, com seu exército praticamente destruído, foi forçado a recuar com as suas tropas sobreviventes, cerca de 600 homens. 


Em 1869, contando 62 anos de idade, a febre vem assaltá-lo e o ferimento no Pé que sofreu em Lomas Valentinas agrava-se com rapidez. Levado à Assunção foi recolhido ao palácio tomado de Solano López onde morreu de seus ferimentos. Atualmente o General Joaquim de Andrade Neves está enterrado na Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário em Rio Pardo, RS. Fonte: José Joaquim de Andrade Neves: Biographia. Francisco Ignacio Marcondes

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Xintoísmo

 

Xintoísmo


Xintoísmo (em japonês: 神道, transl. Shintō) é o nome dado à espiritualidade tradicional do Japão e dos japoneses, considerado também uma religião pelos estudiosos ocidentais.


Xintoísmo

Imagine um lugar, um grande vazio, onde existiam apenas o mar e algumas formas indefinidas. Acima desse lugar havia o Takama-no-hara, ou a "Alta Planície do Céu", onde habitavam os kami (deuses). Foi passeando por uma ponte celestial que um casal de kami olhou para baixo e viu aquele lugar.

Ficaram curiosos e mergulharam uma lança no mar, que respingou água ao ser retirada. As gotas que se desprenderam da lança formaram ilhas. Estas foram as primeiras porções de terra, conforme a mitologia xintoísta.
Em seguida, o casal divino fez descer um enorme pilar até aquelas ilhas. Aquele pilar possuía significado mágico, e o kami Izanagui convidou a companheira Izanami a girar-se em torno do mastro, enquanto ele girava em sentido oposto. Depois da primeira volta, encontraramse, puderam ver seus corpos e se admiraram mutuamente. Daquele encontro, que trouxe muito prazer, nasceram as oito ilhas que formam o Japão, os trinta espíritos majestosos da terra, do mar, das estações, dos ventos, das árvores, das montanhas, dos pântanos e do fogo. Quando Izanami deu a luz o fogo, este queimou as suas entranhas, e ela adoeceu.
Mesmo assim, continuou procriando. Do seu vômito nasceu a argila, a irrigação, o crescimento e a rica alimentação. Izanami acabou falecendo. Izanagui sentiu-se muito só e resolveu buscá-Ia no reino dos mortos. Lá, Izanami estava com o corpo coberto de vermes. Ela se sentiu envergonhada, ficou furiosa, e assumindo o aspecto da Morte, perseguiu Izanagui acompanhada de todos os espíritos infernais. Ao sair do mundo das trevas, ergueu uma rocha, separando a terra do mundo dos mortos.

A criação da deusa Sol


Não conseguindo recuperar a esposa morta, Izanagui entregou-se, inicialmente, às purificações do corpo e da mente. Para isso, ele mergulhou o corpo nas águas correntes violentas de um rio, e seu próprio corpo foi dando origem a outros kami. A grande deusa Sol, Amaterasu Omikami nasceu do seu olho esquerdo, do olho direito nasceu o deus Lua, Tsukiyomi-no-Mikoto, e o deus Tempestade, Susano-O-no-Mikoto, de um dos furos do nariz.

Amaterasu era o Sol e por isso iluminava, enquanto seu irmão Susano deveria habitar nas profundezas do mar, onde não havia claridade, mas ele não aceitou e foi punido com o exílio. Amaterasu tentou ajudar o irmão, mas este, revoltado, praticou inúmeras maldades.

Numa delas, Amaterasu ficou apavorada e resolveu se retirar do céu, escondendo-se numa caverna. A escuridão tomou conta de tudo. Veio a tristeza e, sem o Sol, a safra do arroz não mais aconteceu. Mesmo as lamentações não foram capazes de demover Amaterasu de seu auto-exílio. Foi quando milhões de kami reuniram-se diante da caverna, esperando por uma decisão favorável do kami Sol. Eles enfeitaram o local, acenderam fogueiras e conversavam entre si. Para passar o tempo, resolveram fazer uma festa e criaram os instrumentos musicais e até a dança. Oito milhões de kami dançavam e se divertiam na Alta Planície do Céu, quando Amaterasu, intrigada, resolveu espiar. Quando ela abriu a entrada da caverna, se viu refletida num espelho que haviam colocado na frente, e uma corda de palha impediu que ela se escondesse novamente.

Amaterasu voltou a iluminar, enquanto Susano foi castigado, sendo enviando para o arquipélago japonês, o único mundo que existia abaixo da Alta Planície do Céu.

O dragão de oito cabeças

No Japão, Susano encontrou um casal de velhos e uma jovem filha numa casa simples. Os velhos choravam por causa de um dragão de oito cabeças, que surgia todo ano para devorar uma de suas filhas, e aquela era a última filha viva. Já estava na época do dragão reaparecer para devorar aquela oitava filha.

Para salvar a jovem, Susano ordenou que se preparasse oito tonéis e colocasse um licor refinado oito vezes. O dragão, cujo corpo se estendia por oito vales e oito colinas, chegou e enfiou cada uma das suas cabeças nos tonéis e ficou bêbado. Nesse momento, Susano sacou sua espada e cortou todas as cabeças do dragão.


Ele construiu um castelo em Izumo e teve oitenta filhos com a jovem que ele salvou. Seus filhos passaram a povoar o país.

Houve muitas guerras entre os kami, todos eles descendentes diretos do tempestuoso Susano. Um desses kami tornou-se o príncipe Kamu-Yamato-Iware-Hiko-no-Mikoto, que passaria a se chamar Jimmu Tenno, o primeiro imperador terrestre. Acredita-se que em linhagem direta, todos os imperadores japoneses seriam descendentes de Jimmu. Essa história, que parece um conto de fadas, está registrado no livro Kojiki, ou "Crônicas das Coisas Antigas", que é o texto japonês mais antigo sobre o Japão.

Colaborou: Francisco Handa, historiador , Fonte: Cultura Japonesa

domingo, 19 de janeiro de 2025

Onna-bugeisha, Mulheres guerreiras do Japão

 

Onna-bugeisha, Mulheres guerreiras do Japão



Um onna-bugeisha  era um tipo de mulher guerreira que pertence à japonesa classe alta . Muitas esposas, viúvas, filhas, e os rebeldes responderam ao chamado do dever de se envolver em uma batalha, geralmente ao lado de homens de samurai. Eles eram membros da classe bushi (guerreiro) no Japão feudal e foram treinados no uso de armas para proteger sua casa, família e honra em tempos de guerra. Eles também representaram uma divergência com o papel de "dona de casa" tradicional da mulher japonesa. Eles são muitas vezes erroneamente referidos como samurai do sexo feminino, embora esta seja uma simplificação exagerada. Onna bugeisha eram pessoas muito importantes no Japão antigo. Ícones importantes como Imperatriz Jingu , Gozen Tomoe , Takeko Nakano , e Masako Hōjō estavam todos bugeisha onna que veio a ter um impacto significativo sobre o Japão.


História Antiga


Muito antes do surgimento do famoso samurai de classe, lutadores japoneses foram altamente treinados para empunhar uma espada e lança. As mulheres aprenderam a utilizar naginata , kaiken , e da arte de tantojutsu na batalha. Essa formação assegurada a proteção em comunidades que não tinham lutadores masculinos. Uma tal mulher, mais tarde conhecida como Imperatriz Jingu (c. 169-269 dC), utilizado suas habilidades para inspirar a mudança econômica e social. Ela foi reconhecida como a lendária bugeisha onna que liderou a invasão da Coréia, em 200 dC, depois de seu marido Imperador Chuai , o imperador catorze do Japão, foi morto em batalha. De acordo com a lenda, ela milagrosamente levou uma conquista japonesa da Coreia sem derramar uma gota de sangue. Apesar das controvérsias que cercam sua existência e suas realizações, ela era um exemplo do bugeisha onna na sua totalidade. Anos depois de sua morte, Jingu foi capaz de transcender as estruturas sócio-econômicas que foram incutidos no Japão. Em 1881, a Imperatriz Jingū tornou-se a primeira mulher a ser destaque em uma nota japonesa. Projetado para combater a contrafacção, a sua imagem foi impressa em papel oblongo.  Além de mudanças econômicas no Japão, onna bugeisha esticada também estruturas sociais.


Durante o início Heian e Kamakura períodos, as mulheres que se destacaram no campo de batalha eram a exceção e não a regra. Ideais japoneses da feminilidade predispostos a maioria das mulheres a impotência, em conflito com um papel de guerreira.  mulheres guerreiras eram, ainda assim pioneiros neste papel, e alguns até mesmo passou a liderar seus próprios clãs.

Período Kamakura




A Guerra Genpei (1180-1185) marcou a guerra entre os Taira e Minamoto , dois muito importantes e poderosos clãs japoneses da tarde- Período Heian . Durante este tempo, o épico Heike Monogatari foi escrito e contos de samurais corajosa e dedicada foram recontados. Entre aqueles era Tomoe Gozen , esposa de Minamoto Yoshinaka do clã Minamoto. Gozen assistida seu marido em se defender contra as forças do seu primo, Minamoto no Yoritomo . Durante a Batalha de Awazu em 21 de fevereiro 1184, entrou em Gozen as forças inimigas, atirou-se sobre seu mais forte guerreiro, desmontado, imobilizado e decapitou.

No conto de Heike , Gozen foi descrito como sendo "especialmente bonita , com características de pele branca, cabelos longos, e charmoso. Era também um arqueiro notavelmente forte e, como espadas-mulher que ela era um guerreiro vale um mil, pronto para enfrentar um demônio ou um deus, montada ou a pé. Ela lidou cavalos domados com habilidade excelente;. ela cavalgava ilesa baixo descidas perigosas Sempre que uma batalha era iminente, Yoshinaka enviou-la como seu primeiro capitão, equipada com uma armadura forte, uma espada de grandes dimensões, e um poderoso arco, e ela realizou mais feitos de bravura qualquer um de seus outros guerreiros "

Embora ela não foi provado ser uma figura histórica, Gozen afetou grande parte da classe guerreira, incluindo muitas escolas Naginata tradicionais. Suas ações no campo de batalha também recebeu muita atenção nas artes peças como Tomoe não Monogatari e pinturas ukiyo diversos. Conforme o tempo passou, a influência do onna bugeisha viu sua maneira de pinturas para a política.
Após a Heike foram frustradas para as províncias ocidentais do Japão, o shogunato Kamakura (1185-1333) foi estabelecida logo sob o domínio de Minamoto no Yoritomo. Depois que ele passou, sua esposa, Hōjō Masako , foi o bugeisha onna primeira a se tornar um jogador de destaque da política - nos primeiros anos da regência Hojo. Masako tornou-se um budista freira, um destino tradicional das viúvas samurai, tornando-se conhecido como "O General em Hábito Freira". Ela intimidado a classe samurai em apoiar seu filho, Minamoto no Yoriie , como o primeiro Hōjō Shikken (regente) em Kamakura.
Através dos esforços coletivos de Masako e uma fantoches alguns políticos, as leis que regem corte do shogun no início do século 13 permitiu que as mulheres direitos iguais de herança com parentes fraterna. Mesmo que o papel fundamental das mulheres no Japão antigo continuou a ser o apoio à sua família e seus maridos, eles adquiriram um status mais elevado na casa. Essas leis também permitiu que as mulheres japonesas para controlar as finanças, propriedade legar, a manutenção da casa, servidores gerenciados, e para criar seus filhos com boa educação samurai, Fiel,. Mais importante, as mulheres japonesas também eram esperados para defender suas casas em tempos de guerra.

Período Edo e além


Por causa da influência do neo-confucionismo filosofia e mercado de casamento estabelecida do Período Edo (1600-1868), o estado da onna-bugeisha diminuiu significativamente. A função de Onna-bugeisha mudou, além de seus maridos. Samurai não estavam mais preocupados com as batalhas e guerras, eram burocratas . As mulheres, especialmente as filhas de famílias de classe mais altas, foram logo para peões sonhos de sucesso e poder. Os ideais que ruge de devoção destemido e abnegação foram gradualmente substituídos por calma, obediência passiva civil.
Viagem durante o Período Edo era exigente e inquietante para mulher samurai  muitos por causa de fortes restrições. Eles sempre tiveram que ser acompanhada por um homem, uma vez que eles não foram autorizados a viajar por conta própria. Além disso, eles tiveram que possuem licenças específicas, estabelecer os seus negócios e motivos. Mulheres Samurai também recebeu assédio tanto de funcionários que trabalhavam postos de inspeção.

O início do século 17 marcou uma transformação significativa da aceitação social das mulheres no Japão. Samurai muitos viram as mulheres como meros portadores criança, o conceito de uma mulher ser um companheiro adequado para a guerra já não era concebível. O relacionamento entre marido e mulher podem ser correlacionados com a de um senhor e seu vassalo. "Maridos e esposas nem sequer costumam dormir juntos. Iria visitar o marido de sua esposa para iniciar qualquer atividade sexual e depois se retirar para o seu quarto".  Apesar da visão social da mulher como sendo meros meios para um fim, eles ainda deve mostrar consolo para a morte quando se tratava de defender a honra do marido. Solidariedade da esposa por causa de seu marido era um tema comum e bem receptivo na cultura japonesa. Além de auto-sacrifício, a auto- renúncia foi também um imperativo da qualidade uma mulher japonesa teve que possuem até o início do século 20.

Em 1868, durante a Batalha de Aizu , uma parte da Guerra Boshin , Nakano Takeko , membro do Aizu clã, foi recrutado para se tornar líder de um corpo de mulher que lutou contra o ataque de 20.000 Exército Imperial Japonês do domínio Ogaki. Altamente qualificados no, naginata Takeko e seu corpo de cerca de 20 juntou 3.000 outro Aizu samurai em batalha. O Templo Hokai em Aizu Bangemachi, Fukishima província possui um monumento erguido em sua honra.


terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Rebelião de Shimabara, contra a perseguição aos cristãos

 

Rebelião de Shimabara, contra a perseguição aos cristãos


Rebelião de Shimabara (島原の乱 Shimabara no ran) foi uma revolta de camponeses japoneses, na sua maioria cristãos, entre 1637 e 1638, durante o Período Edo. Foi uma das poucas revoltas ocorridas num período relativamente pacífico, o xogunato Tokugawa.


Os impostos foram drasticamente aumentados, quando o clã de Matsukura estava para iniciar a construção de um novo castelo em Shimabara. Essa atitude provocou a ira dos camponeses locais e dos samurais. Além disso, a perseguição religiosa contra os cristãos locais aumentou o descontentamento, que se transformou em revolta aberta em 1637. O xogunato Tokugawa enviou uma força de mais de 125 000 homens para reprimir os cerca de 27 mil camponeses, e depois de um cerco prolongado contra os rebeldes no Castelo Hara, o xogunato obteve a vitória.

O líder da rebelião, Amakusa Shiro, foi decapitado e a perseguição ao cristianismo tornou-se rigorosamente severa. A política de isolamento do Japão foi reforçada, e a perseguição formal aos
cristãos continuou até a década de 1850.



Estátua de Amakusa Shiro no castelo Hara


Em meados da década de 1630, camponeses da península de Shimabara e das ilhas Amakusa, insatisfeitos com impostos excessivos e o sofrimento dos efeitos da fome, se revoltaram contra os seus senhores. Isso foi mais precisamente no território governado por Matsukura Katsuie e no Domínio Karatsu, governado por Teresawa Katakata. Embora a rebelião seja considerada por alguns historiadores como uma revolta religiosa, esta não aborda as questões do descontentamento a partir da fome e impostos. Dentre as pessoas afetadas também incluem-se os pescadores, artesãos e comerciantes. A medida que a rebelião propagava, samurais sem mestre (ronins) que antes haviam servido famílias tais como Amakusa e Shiki que outrora viveram na área, também uniram-se ao movimento.  Como tal, a imagem de uma revolta inteiramente "camponesa" também não é inteiramente correta.

Shimabara foi domínio da família Arima, que era cristã; como consequência, muitos habitantes locais foram também cristãos. Os Arimas foram substituídos em 1614 pelos Matsukuras. O novo senhor, Matsukura Shigemasa, tinha aspirações de progressão na hierarquia do xogunado, e assim ele esteve envolvido em vários projetos de construção, incluindo a construção e ampliação de Castelo Edo, bem como o planejamento da invasão de Luzon. Também construiu um novo castelo em Shimabara. Como resultado, ele colocou uma imensa e desproporcionada carga fiscal sobre o povo de seu novo domínio, ainda mais indignado por perseguições ao cristianismo.
Os habitantes das ilhas Amakusa, que tinham sido parte de Konishi Yukinaga, sofreram o mesmo tipo de repressão nas mãos da família.


A rebelião
Os descontentes e samurais, bem como os camponeses, começaram a se reunir em segredo para formar uma rebelião; esta eclodiu no outono de 1637, quando o daikan local (agente fiscal) Hayashi Hyōzaemon foi assassinado. Ao mesmo tempo, outros se rebelaram nas ilhas Amakusa. Os rebeldes aumentaram rapidamente suas forças, forçando todos na área a se juntarem à insurreição. Um carismático garoto de 14 anos, Amakusa Shirō, logo foi escolhido como o líder da rebelião.

Os rebeldes sitiaram o clã Terasawa e castelos Hondo e Tomioka, mas pouco antes dos castelos que estavam prestes a cair, os exércitos dos domínios vizinhos em Kyushu chegaram, e forçaram os rebeldes a recuar. Os rebeldes, em seguida, atravessaram o Mar Ariake e brevemente sitiaram o Castelo de Shimabara de Matsukura Katsuie, mas foram novamente repelidos. Neste ponto, eles se reuniram no local do Castelo Hara, que tinha sido o castelo do clã Arima antes de sua mudança para o domínio de Nobeoka. Eles construíram paliçadas utilizando a madeira dos barcos com que tinham atravessado a água, além de estarem fortemente armados pelas armas, munições e provisões que haviam saqueado a partir de armazéns do clã de Matsukura.

Depois da tomada do Castelo Hara, o cristianismo ganhou muito espaço entre os rebeldes. Livros descrevem que, em momentos de desespero, os camponeses se apoiavam na fé, levantando cruzes e bandeiras brancas. Para adquirir coragem, rezavam e gritavam os nomes de Jesus Cristo e da Virgem Maria. Em uma escavação arqueológica na fortaleza, iniciada em 1992 com o patrocínio da prefeitura de Nagasaki, foram encontradas imagens de bronze de Jesus, Maria e São Francisco Xavier, além de cruzes e rosários.




Estátuas budistas de Jizō, o bosatsu de misericórdia, decapitados pelos rebeldes cristãos.

Cerco do Castelo Hara
Quando soube da ocupação do castelo abandonado, Terazawa Katataka, senhor feudal de Amakusa, enviou 3 mil guerreiros para a região. Apenas 200 voltaram vivos. Quando o xogum Iemitsu Tokugawa ficou sabendo do massacre dos homens de Katakata ficou impressionado com a resistência dos rebeldes e enviou uma tropa de 26 mil soldados comandados por Shigemasa Itakura. No primeiro ataque, 600 homens morreram e, na segunda tentativa, 5 mil homens de Itakura foram mortos, enquanto menos de 100 rebeldes ficaram feridos.

Em janeiro de 1638, as tropas do xogum tentaram invadir o castelo e foram duramente castigadas, a ponto do comandante Itakura ter sido morto em combate. Ele foi substituído por, Matsudaira Nobutsuma. Fontes indicam a participação de Miyamoto Musashi, em um papel de aconselhamento de Hosokawa Tadatoshi. Mas, historicamente, não há provas da participação dele na batalha.
A chegada de Nobutsuma a Hara foi importante para a mudança de estratégia. Ele fez um cerco em volta do castelo, para evitar que os rebeldes saíssem do forte em busca de comida, com o objetivo de fazer os rebeldes se rendessem. Passados alguns dias, ele jogou uma carta dentro do castelo que com a qual prometia perdoar aqueles que se entregassem, mas não adiantou.



Mapa do cerco do Castelo Hara

As forças do xogunato pediram ajuda aos neerlandeses, que primeiro deram pólvora e canhões.Nicolaes Couckebacker, opperhoofd da feitoria pertercente aos Países Baixos em Hirado, providenciou a pólvora e canhões, e quando as forças do xogunato solicitaram que ele enviasse um navio, ele pessoalmente acompanhou o navio de Ryp para uma posição próxima ao Castelo Hara. Os canhões enviados anteriormente foram montados em uma bateria em um barco de guerra, começando o ataque, tanto dos canhões da costa e também dos 20 canhões do de Ryp. Estas armas dispararam cerca de 426 projéteis em 15 dias, sem grande resultado, e dois vigias holandeses foram baleados pelos rebeldes.
E, em vez de forçar a rendição dos camponeses, a artilharia pesada parece ter dado matéria-prima para os rebeldes: arqueólogos encontraram 16 cruzes de metal no castelo, provavelmente feitas a partir da fundição dos projéteis.
O navio foi retirado a pedido dos japoneses, em seguida receberam as mensagens de desprezo enviadas pelos rebeldes para as tropas sitiantes:
"Não existem soldados mais corajosos no reino para combater conosco, e não estão envergonhados de terem chamado ajuda de estrangeiros contra o nosso pequeno contingente?"

Queda dos rebeldes

Em uma tentativa de tomar o castelo, Itakura Shigemasa foi morto. Logo chegaram mais tropas do xogunato sob o comando de Matsudaira Nobutsuna para substituir Itakura. Em abril de 1638, havia mais de 27 mil rebeldes enfrentando cerca de 125 000 soldados do xogunato. Um mês depois, um grupo de camponeses tentou um ataque noturno às tropas do governo, sendo que, 380 rebeldes morreram e alguns sobreviventes capturados revelaram que não havia mais comida ou pólvora dentro do castelo.
Em 12 de abril de 1638, as tropas sob o comando do clã Kuroda do Domínio de Hizen invadiram a fortaleza e capturaram as defesas externas. Os cristãos lutaram desesperadamente. Além de espadas e lanças, utilizaram pedras, pedaços de madeira, utensílios de cozinha ou qualquer coisa que pudesse ser empunhada como arma ou atirada do canhão que eles possuíam.

Forças presentes em Shimabara
Estátua do vice-comandante do exército do xogunato, Toda Ujikane.
A Rebelião de Shimabara foi o maior esforço militar desde o Cerco de Osaka onde o xogunato tinha de dirigir um exército aliado formado por tropas de vários domínios. O primeiro comandante geral, Itakura Shigemasa, tinha 800 homens sob seu comando direto; seu substituto, Matsudaira Nobutsuna, tinha 1 500. O vice-comandante Toda Ujikane tinha 2 500 de suas próprias tropas. 2 500 samurais do Domínio de Shimabara também estavam presentes. Boa parte do exército do xogunato foi formado a partir de domínios vizinhos de Shimabara. A maior parcela, totalizando mais de 35 000 homens, veio do Domínio de Saga, e estava sob comando de Nabeshima Katsushige. Em segundo lugar em números estava a força dos domínios de Kumamoto e Fukuoka; 23 500 homens sob o comando de Hosokawa Tadatoshi e Kuroda Tadayuki respectivamente. Do Domínio de Kurume foram 8 300 homens subordinados a Arima Toyouji; do Domínio de Yamanaga 5 500 homens sob as ordens de Tachibana Muneshige; do Domínio de Karatsu, 7 570 homens estavam aos comandos de Terasawa Katataka; de Nobeoka, 3 300 estavam sob as ordens de Arima Naozumi; do Domínio de Kokura, 6 000 estavam sob as ordens de Ogasawara Tadazane e seu braço direito, Takada Matabei; provenientes do Domínio de Nakatsu, 2 500 homens estavam sob as ordens de Ogasawara Nagatsugu; de Bungo-Takada, 1 500 eram comandados por Matsudaira Shigenao, do Domínio de Kagoshima, 1 000 homens estavam as ordens de Yamada Arinaga. As únicas forças que não eram de Kyushu, além dos comandantes militares pessoais, foram 5 600 homens do domínio de Fukuyama, sob o comando do Mizuno Katsunari,[20] Katsutoshi, e Katsusada. Houve também um pequeno número de tropas de vários outros locais na quantidade de 800 homens. No total, o exército do xogunato foi composto por mais de 125 800 homens. Por outro lado, a quantidade de pessoas que compuseram as forças rebeldes não é precisamente conhecida. Estima-se que eram mais de 14 000 combatentes e que o número de não-combatentes abrigados no castelo durante o cerco eram mais de 13 000. Uma fonte estima que o tamanho total da força rebelde era algo entre 27 000 e 37 000, uma fração, se comparada ao tamanho das forças enviada pelo xogunato.

Epílogo
Depois que o castelo caiu, as forças do xogunato decapitaram cerca de 37 000 rebeldes e simpatizantes. A cabeça decepada de Amakusa Shiro foi levado para Nagasaki para exibição pública, e todo o complexo do Castelo Hara foi totalmente queimado e enterrado junto com os corpos de todos os mortos.
Cristãos e estrangeiros passaram a ser os maiores inimigos do governo Tokugawa. Por exemplo, em Nagasaki, padres eram mortos em público e queimados vivos. Aproximadamente 80% dos cristãos da cidade foram executados e os outros foram presos ou escravizados. Prêmios em dinheiro eram oferecidos aos que denunciassem os religiosos clandestinos.

O xogunato suspeitou que católicos ocidentais tinham sido envolvidos na divulgação da rebelião e comerciantes portugueses foram expulsos do país. A política de isolamento nacional tornou-se mais rigorosa em 1639. Uma proibição já existente da religião cristã foi, então, aplicada rigorosamente, e o cristianismo no Japão sobreviveu apenas por meio dos Kakure Kirishitan.
Outra das ações que depois foi tomada pelo xogunato foi o perdão das contribuições de construção aos domínios que haviam apoiado militarmente. Matsukura Katsuie cometeu suicídio, e seu domínio foi dado a outro senhor, Koriki Tadafusa.[16] O clã de Terazawa sobreviveu, mas desapareceu quase 10 anos depois, devido à falta de um Katataka como sucessor.
Na península de Shimabara, a maioria das cidades experimentaram uma grave perda de população, como resultado da rebelião. A fim de manter os campos de arroz e outras culturas, migrantes foram trazidos de outras áreas em todo o Japão para reassentar a terra. Todos os habitantes foram registrados em templos locais, cujos sacerdotes eram obrigados a atestar a filiação religiosa de seus membros.
Com a exceção de alguns levantes locais, a Rebelião de Shimabara foi o último confronto armado em larga escala no Japão até 1860.
Até hoje, em datas festivas, as perseguições aos cristãos são lembradas. Na semana do Festival Okunchi, celebrado entre os dias 7 e 9 de outubro em Nagasaki, os moradores da cidade abrem a porta de suas casas e exibem seus pertences no jardim. Trata-se de um antigo costume do século 17, quando eles eram obrigados a mostrar tudo o que possuíam para provar que não eram católicos.



O arco japonês

 

                O arco japonês



A presença dos arcos no mundo é muito antiga. Acredita-se que desde fins da Idade da Pedra, o arco já era usado no Oriente Próximo e Médio. No Japão não foi diferente e há vestígios, de que os primeiros arcos japoneses vêm dessa época. Um exemplo é um sino de bronze encontrado em que há desenhos inscritos, datado do fim da Idade da Pedra. Por isso também é comum se dizer que o kyūdō, o caminho do arco, é a mais antiga das artes marciais tradicionais do Japão, já que arcos têm sido usados desde a Pré-História.

A influência chinesa

Do século IV a IX, a proximidade entre China e Japão teve grande influência tanto nas técnicas de produção do arco em si, como na utilização e filosofia adjacente ao uso do mesmo. Em especial, as crenças confuncionistas de que, pela dedicação ao arco, uma pessoa poderia encontrar seu verdadeiro eu tiveram grande peso na cultura do arco-e-flecha japonesa.

A literatura sobre arco-e-flecha era vasta na China desde há muito. Livros dos fins da Dinastia Han (II d.C), como O livro dos ritos e O livro de Zhou, exerceram grande influência no Japão, levando consigo o pensamento de Confúncio. Esse forte intercâmbio cultural com a China ocorreu principalmente nos séculos IV e V d.C., pela época do lendário Imperador Ōjin, e atingiu os valores, a ideologia e a etiqueta da Corte Japonesa até com relação ao modo de se praticar arco-e-flecha – nascendo aí o lado cerimonial da prática, cultivado ao longo da era feudal nipônica. Então, enquanto os nobres da Corte se concentravam na parte cerimonial do arco-e-flecha, os guerreiros se focaram no kyūjutsu, as técnicas marciais de se usar o arco como arma. Além disso, segundo consta no Kojiki (o mais antigo livro japonês), ao uso do arco longo era associado grande prestígio tanto ideológica quanto culturalmente. Um ditado chinês dizia: “De posse da flecha, o sábio resolve suas diferenças”; tal pensamento também se tornou próprio da cultura militar japonesa.

O período feudal japonês (1187-1867)


Quando Yoritomo de Minamoto deu início ao Xogunato em Kamakura (inaugurando a Era Kamakura e, com ela, o período feudal), estabeleceu também o código de comportamento e pensamento do guerreiro, pregando que através da técnica de arco-e-flecha a cavalo (kyūba) poderia se dar o desenvolvimento do espírito. Para o disciplinamento da mente e do corpo, assim como para a prática das técnicas de combate, eram realizadas cerimônias de kyūba, como a inu-ōmono, a kasagake etc.

A grande cerimônia de yabu-same (um dos estilos de kyūba), na qual animais capturados são libertados, por exemplo, acontece ainda hoje no templo de Hachiman, em Tsurugaoka. Naquela época também era popular a caça esportiva, pelo que, novamente, na Era Heian, a arte do arco tornou-se a arte da guerra. O inu-ōmono, o kusajishi, entre outros cerimoniais, ainda podem ser vistos hoje, pois se tornaram esportes, com regras bem definidas.

O desenvolvimento das técnicas

A partir do Período das Duas Cortes (Nambokuchō, 1336-92) e atravessando da Era Muromati (1392-1573), houve uma inovação de estilo no que concerne às técnicas de arco-e-flecha.
Na época do Imperador Godaigo, o método de tiro transmitido pela sociedade feudal foi criado por Nagakiyo e Sadamune Ogasawara, que estabeleceram as regras de etiqueta do arqueiro a cavalo. Depois, a família Ogasawara tornou-se instrutora do xogum Tokugawa e sua família. Em termos de registro das técnicas de tiro da época, o mais detalhado é provavelmente um grande compêndio escrito por Ryōshun Imagawa.

Quanto a Danjōmasatsugu Heki, pai do estilo Heki, também ele era uma pessoa desse tempo. A técnica de tiro de Heki foi posta em prática e teve sua difusão nessa época. Suas técnicas foram, em seguida, passadas a Shigekata Kōzuke-no-Suke Yoshida e, então, acabaram por se dividir em dois novos estilos: o estilo Izumo e o estilo Sekka – os quais voltaram a se subdividir, este dando origem ao estilo Dōsetsu, aquele ao estilo Insai e outros mais. Muitos eram os grandes talentos dedicando-se à arte do arco naqueles anos, pelo que as técnicas de arco-e-flecha evoluíram bastante e rapidamente. Além disso, uma outra família (afiliada aos Yoshida) também se dedicou a essa arte: o monge Tikurin desenvolveu um estilo de mesmo nome, depois consagrado por seus filhos.

Desse modo, nos cento e cinqüenta anos entre o fim da Era Muromati e o princípio do período Tokugawa (séculos XV-XVII) muitos estilos surgiram e se desenvolveram. Após isso, houve apenas mais dois: no período Genroku (1688-1704), o surgimento do estilo Yamato desenvolvido por Kōzan Morigawa, a quem também é creditado o uso, pela primeira vez, do termo “kyūdō”, i.e., caminho do arco. Esse termo está ligado à ideologia Zen-Budista (antes se usava apenas kyūjutsu, um termo mais ligado à técnica e, portanto, de conotação mais militar). O outro evento se dá na Era Meiji (1868-1912), quando Toshizane Honda cria o estilo Honda.

O arco como disciplina do corpo e da mente


Já em fins da época de Ōda Nobunaga e Toyotomi Hideyoshi (séc. XVI), começaram a ser importadas armas de fogo e o arco deixou de ser usado como instrumento de guerra. Em verdade, esses dois generais foram os primeiros a utilizá-las com sucesso em uma batalha e, após isso, era questão de tempo até que o fato se consumasse: o arco foi preterido e quase esquecido por completo com a chegada das armas de fogo. Isso levou as técnicas de arco-e-flecha a se refinarem cada vez mais com o objetivo de disciplinar o corpo e a mente.
Dentro dessa nova perspectiva, um caso a se ressaltar é o dos torneios de tiro à longa distância (tōshiya), em que o alvo fica a cerca de 120m e 4,9m de altura do arqueiro. Existindo desde o séc. XII, especialmente na forma de “torneios de resistência”, ganhou popularidade por volta do séc. XVI, quando no período do xogunato Tokugawa grandes mudanças ocorreram na maneira de se encarar o arco-e-flecha, pelas razões supracitadas.

O torneio no Sanjūsangendō, em Quioto, é o maior desse tipo e ocorre desde 1165. Esses torneios duravam até um dia inteiro e cada arqueiro podia atirar centenas de flechas. Havia diferentes categorias, como a competição de doze horas, a de vinte e quatro horas, a de cem flechas e outra de mil flechas. Além disso, mulheres também podiam participar (a partir da Era Tokugawa). Em 1606, o recorde era de 51 flechas acertadas, mas, entre 1661-88, esse número chegou a recordes inimagináveis com os casos de Shigenori Kanzaemon Hoshino e de Daihachirō Wasa.

Em 1669, Shigenori Kanzaemon Hoshino alcançou a incrível marca de oito mil acertos das 10.542 flechas que atirou. Cerca de duas décadas depois, em 1686, Daihachirō Wasa conseguiu um feito ainda mais impressionante, estabelecendo o recorde de 13.053 tiros com 8.133 acertos (uma média de 62% de acertos e um tiro a cada 6,6 segundos). O torneio de Sanjūsangendō ainda acontece, mas agora suas categorias são diferentes e as provas duram menos tempo.

No tiro à longa distância é preciso atirar rapidamente, logo os métodos e instrumentos usados são diferentes. Por exemplo, atira-se sentado e o arco não deve rodar na mão após o tiro (hoje, existe uma luva mais grossa no dedão usada no tōshiya que consegue impedir o giro sem exigir tanto do arqueiro, no entanto essa luva é uma invenção moderna).

O fim do xogunato e a Restauração Meiji

Com o prosseguimento da paz na Era Edo, o aperfeiçoamento do arco-e-flecha continuava, fosse enquanto técnica militar, fosse enquanto “caminho zen”, estabelecendo-se como disciplinamento para corpo e mente; mas, como o treinamento militar do fim do feudalismo (período quando dominavam os xoguns) da Era Edo não tinha por objetivos reais a guerra, um dia tudo parou. Numa época de ocidentalização e de armas de fogo não havia mais espaço para a tradição arqueira aparentemente.

No entanto, os treinos de kyūba continuaram a ser realizados, como parte do treinamento dos graus inferiores dos soldados. Até que no ano 28 da era segunte (a Era Meiji), aconteceu, em Quioto, o I Encontro Nacional de Artes Marciais do Japão, no qual, naturalmente, também aconteceram competições de kyūdō, contribuindo para a revitalização dessa arte.

Outro fator importante foi o feito de Honda Toshizane, um instrutor de kyūdō na Universidade Imperial de Tóquio, que combinou elementos do estilo de guerra e do estilo cerimonial de arco-e-flecha num novo estilo híbrido, que se tornou conhecido como Honda-ryū (Estilo Honda). Esse estilo se tornou popular entre o público geral e, para alguns, é o verdadeiro salvador do arco-e-flecha japonês do esquecimento em que vinha caindo.

Nas Eras Taishō (1912-26) e Shōwa (1926-89), o kyūdō passou a ser incluído no currículo escolar (a partir do segundo segmento) como disciplina obrigatória ou opcional (nos clubes esportivos); porém o início da II Guerra Mundial, em 1941, fez com que o Ministério japonês da Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia (Monbushō) declarasse as artes marciais como exercício de Educação Física, novamente ligando essas artes diretamente ao combate. Desse modo, com o fim da guerra, as aulas de kyūdō foram proibidas (novembro de 1945).

Seis anos depois, o Monbushō expediu uma nota suspendendo a proibição e permitindo a prática de kyūdō, mas apenas em 1967 a Secretaria de Educação Física aprovou uma nota permitindo às direções das escolas do ensino médio adotar aulas de kyūdō, o que fez com que o kyūdō ganhasse um novo significado na educação: passou a ser visto como uma disciplina para educação corporal.

Com a ocupação americana no Pós-II Guerra, todas as artes marciais foram proibidas, contribuindo ainda mais para o declínio do kyūjutsu tradicional. Então, quando a proibição contra artes marciais acabou, o kyūdō (e não o kyūjutsu) havia se tornado uma prática comum a todo o Japão. Em 1953, a Federação Nacional de Kyūdō (ZNKR ou ANKF) foi fundada, publicando um manual com seus padrões e supervisionando o desenvolvimento de kyūdō tanto no Japão quanto em outros países.

Hoje, já existe uma Federação Européia de Kyūdō, que promove seminários anuais e provas. A partir de 1993, o mesmo passou a acontecer nos EUA.

Daí por diante, com os novos métodos de pesquisa das ciências modernas, as novas bases da ideologia por trás das artes marciais passaram a ser atreladas à educação, sendo a manutenção de sua difusão de grande importância.

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